Seu controle ainda é feito como o balcão das bibliotecas antigas?

Quem se lembra de pedir no balcão das bibliotecas antigas um tema para o atendente buscar o respectivo livro?

O processo era muito simples (!). O custo x benefício era de não ser necessário adquirir todos os livros e reunir vasto conhecimento com acesso público para consulta e uso pontual dos livros dentro do acervo de uma biblioteca. Havia variações no atendimento entre elas, mas vamos relembrar um dos modelos:

Primeiramente, era preciso se deslocar, pois raramente havia uma biblioteca próxima de sua residência. Depois, chegando lá, preencher um cadastro para sermos encontrados (1), caso algum livro com opção de ser levado para casa não fosse devolvido. Nesse caso, recebíamos uma ficha com o livro e data estimada de devolução, cujo registro também ficava armazenado na biblioteca: atrasos poderiam gerar multas ou banimento no empréstimo de novos livros.

No caso de um livro ser obrigatoriamente consultado na biblioteca, em geral um documento pessoal ficava sob custódia no ato da retirada do livro. Esse documento só era devolvido mediante contra entrega do livro emprestado à biblioteca.

Não tínhamos acesso aos livros, pois seu armazenamento era restrito aos funcionários que organizavam sua catalogação e seu armazenamento pelos infindáveis corredores. A primeira vez que tive acesso direto ao acervo foi no Centro Cultural Vergueiro, ao lado da estação do metrô de mesmo nome em São Paulo: uma inovação ter tamanha autonomia de pesquisa, na época. E ainda com copiadoras (máquinas ‘Xerox’) disponíveis mediante custos acessíveis.

Nas tradicionais, pedíamos num balcão a quem nos atendia (2) sobre um determinado assunto, autor ou título do livro.

Numa variação mais sofisticada, um fichário ficava à disposição do público para pesquisa por ordem de assunto, livro ou autor. Ao encontrar sua ficha, era necessário anotar o código catalogado do livro naquela biblioteca para solicitá-lo no balcão.

Continuando a jornada, o atendente acessava um fichário de controle para cada livro (3), identificando se ele estava ‘emprestado’ ou disponível em sua prateleira. Estando indisponível (4), em algumas bibliotecas, era só ‘voltar ao final da fila de atendimento’ no balcão (5) para uma próxima pesquisa. Cada um possuía só uma bala de prata para acertar por vez: pediu errado, volta para a fila na próxima tentativa.

Numa alternativa, em alguns lugares era permitido solicitar uma quantidade maior de livros de uma vez só, sendo recurso amplamente utilizado em função da incerteza do conteúdo que receberíamos nos livros solicitados: melhor garantir com várias fontes.

O atendente sumia do balcão para procurar o livro no labirinto de estantes (6). Às vezes, o tempo de espera indicava que teria aproveitado para ir ao banheiro, afinal, também era humano. Enfim, recebíamos o(s) livro(s) solicitado(s) (7). Mas muitas vezes o conteúdo era insuficiente às nossas necessidades: aí era SÓ devolver o livro (8) também voltando ao fim da fila (5), engrossada com aqueles que nem o livro havia sido encontrado.

Cansou só de imaginar? Tem mais alguns inconvenientes que as novas gerações da web nem imaginam:

– Solicitar no balcão por assunto (2) era uma verdadeira caixa de surpresas, pois dependíamos da sorte, dos astros, do tamanho da fila, da paciência e humor do dia desse atendente, afinal, quanto mais genérico o assunto, provavelmente havia dezenas e centenas de referências a uma infinidade de livros. Muitas vezes, buscar o primeiro que referenciava o assunto solicitado era o tempo disponível desse atendente.

– Solicitar ao atendente diretamente o livro ou autor já facilitava muito a partir de prévia consulta ao fichário. Mas mesmo esse fichário não era tão rico em detalhes, não permitindo darmos ‘uma espiada’ no conteúdo final do texto, com alto risco de não nos atender ao acessar o conteúdo completo do livro.

– Com o passar das horas do dia, a fila de pessoas a serem atendidas tendia a aumentar (5). Então chegar nas primeiras horas da manhã lhe garantia seu atendimento (2) mais cuidadoso. Mas numa nova pesquisa (4 ou 8), provavelmente já pegaria a fila maior do que sua primeira visita ao balcão (2).

– Outro agravante é o livro já ter sido retirado anteriormente (4) por outro leitor. Isso era agravado quando um trabalho escolar solicitado estimulava todos os alunos a buscarem o mesmo assunto simultaneamente, principalmente nos últimos dias da data limite de entrega. Está ruim? Pode piorar: ao permitir o empréstimo de mais de um livro do mesmo assunto, isso potencializava mais ainda a falta de fontes de pesquisa na medida que você fosse sendo um dos últimos da fila, pois todos eles já poderiam ter sido retirados numa quantidade bem maior que o número de leitores já presentes: nesse caso, o ditado é ‘os últimos serão os últimos’ mesmo.

– Livros danificados, pois com tantas dificuldades, havia leitores que retiravam as páginas que lhes interessavam. Se o atendente não realizasse uma checagem de vandalismo nos momentos de retirada e devolução do livro, apenas o próximo leitor notaria a ausência de páginas do assunto que o levou à pesquisa: e pior, ainda poderia ser acusado do vandalismo.

– O fichário poderia ser acessado em ordem alfabética de assunto OU em ordem alfabética do nome do livro OU em ordem alfabética do nome do autor. Agravantes: um livro poderia ter vários autores/coautores; quando uma pessoa estava acessando esse fichário, os demais deveriam aguardar sua pesquisa e; não era possível combinar a pesquisa entre parte do nome do título, parte do nome do autor ou parte do nome do assunto!

Não que a web substitua no todo uma biblioteca, que ainda possui o benefício de permitir um aprofundamento e compartilhamento de obras não digitalizadas, por exemplo. Seus processos atuais já devem ter evoluído: não tem como eu opinar pois não visito uma biblioteca há décadas. Devem ter agora um misto de consulta digitalizada também. A pesquisa inicial básica hoje em dia é na web, com raras visitas às bibliotecas pelo grande público:

– Uma pesquisa na WEB (A) substitui as etapas 1, 2 e 3 de acessar o fichário: pela barra de pesquisa, podemos combinar vários termos parciais do nome do assunto, nome do livro ou nome do autor. Na verdade, exceto buscando um determinado livro para aquisição, em geral buscamos apenas o assunto.

– O tamanho do acervo (B) é o mundo digitalizado, enriquecido com IA e motores de pesquisa com tempo de resposta instantâneo num custo x benefício muito favorável, diferente da limitação do acervo de cada biblioteca (6).

– O retorno dessa pesquisa (C), em segundos, permite darmos ‘uma espiada’ no conteúdo ilimitadamente, sem restrições da quantidade máxima de livros solicitados das bibliotecas de antigamente (7).

– Não encontrando material suficiente na primeira ‘espiada’, a lista com múltiplos retornos já permite percorrê-la sem nova pesquisa, substituindo as etapas 4, 5, 6, 7 e 8 em poucos minutos.

– E se mesmo assim, a lista não tiver atendido, uma nova pesquisa (D) pode ser feita em poucos segundos com uma nova combinação de termos (A), sem balcão, sem atendente, sem fila e sem limitação de pesquisa.

Mas o que essa óbvia facilidade na busca de informações atualmente pela web x balcões das antigas bibliotecas tem a ver com controle?

Se você controla seus processos ou cronograma de entrega de arquivos regulatórios e demais obrigações acessórias pela troca de e-mails, não se distancia muito do funcionamento dessa biblioteca ‘de balcão’. Quando você envia um e-mail solicitando o ‘status’ de algo, ele cai na caixa de entrada de e-mails de alguém semelhante à fila e ao atendente no balcão. Se a prioridade nesse controle é de você e não do outro, o tempo correrá muito mais rápido para você do que para ele responder esse e-mail. Pode já estar na hora de substituir por uma ferramenta de controle que lhe dê os benefícios tal como a web substituiu a pesquisa básica que era feita em bibliotecas com acesso restrito pelo balcão.

Mais sobre esse assunto na categoria Agenda regulatória em https://www.b3bee.com.br/site/category/agenda-corporativa/agenda-regulatoria/.

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Yoshio Hada: sócio administrador da B3Bee Consultoria e Sistemas, licenciando sistemas às instituições financeiras nos temas de Avaliação e mitigação de RSAC, Dados Abertos (Demonstrações Financeiras, Relatório do Pilar 3, Relatório do GRSAC e Canais de Atendimento), CADOC’s (DLI 2062, COS 40XX, Saldos Diários 4111, 5011, ETF 80XX, DF 9011/9061, SVR 9800, DRSAC 2030, RCP 4076, Pagamentos do Varejo e Canais de Atendimento 6209), FGC405, Conversão de layouts (ETL), Calendário de Obrigações Acessórias ou Fluxos de Execução, Validação e Envio de CADOC’s.

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